Uma nova análise divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística nesta sexta-feira (5) evidencia um cenário preocupante de desigualdade ambiental no país. De acordo com o suplemento Favelas e Comunidades Urbanas, produzido com dados do Censo 2022, quase dois em cada três moradores de favelas no Brasil (64,6%) vivem em trechos de vias sem ao menos uma árvore em área pública.
O levantamento mostra um contraste evidente entre essas regiões e outras áreas urbanas. Fora das favelas, a proporção de pessoas que vivem em ruas sem arborização cai para 31%. A metodologia considerou árvores com, no mínimo, 1,70 metro em vias públicas — não sendo contabilizada a vegetação presente em quintais.
Essas informações ganham ainda mais relevância no ano em que o Brasil sediou a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), da qual a preservação ambiental e a adaptação às mudanças climáticas foram temas centrais. Durante o evento, o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima lançou o Plano Nacional de Arborização Urbana para ampliar a cobertura vegetal nas cidades.
Segundo o chefe do Setor de Pesquisas Territoriais do IBGE, Filipe Borsani, os dados reforçam a urgência de políticas públicas voltadas para a qualidade ambiental nas áreas mais vulneráveis.
“A arborização é variável importante, ainda mais no momento de aquecimento global. Ela está diretamente ligada ao conforto térmico e às melhores condições de vida no ambiente urbano”, afirmou.
O estudo também aponta que, das 12.348 favelas identificadas no Brasil, cerca de 10,4 milhões de habitantes vivem em vias sem uma única árvore. A disparidade varia conforme a densidade populacional: nas comunidades com até 250 moradores, 45,9% vivem perto de alguma árvore. Nas favelas com mais de 10 mil habitantes, o índice despenca para 31,8%.
Entre as 20 maiores favelas brasileiras, a situação mais crítica é registrada em Rio das Pedras — apenas 3,5% dos quase 56 mil moradores têm uma árvore diante de casa. No sentido oposto, Sol Nascente apresenta o melhor cenário: 70,7% dos residentes vivem em trechos arborizados.
A pesquisa também aborda outro aspecto importante da infraestrutura urbana: a presença de bueiros, essenciais no escoamento de água das chuvas e na mitigação de impactos causados pelas mudanças climáticas. Nas favelas, 45,4% dos moradores vivem em vias com bueiros — índice que sobe para 61,8% nas áreas fora dessas comunidades.
Os dados reforçam o desafio de reduzir desigualdades territoriais e promover melhores condições ambientais para milhões de brasileiros que vivem em áreas de alta vulnerabilidade urbana.
Com informações da Agência Brasil – Foto: Fernando Frazão



