A violência contra a mulher no interior do estado do Rio de Janeiro atingiu índices preocupantes em 2023, de acordo com a 19ª edição do Dossiê Mulher 2024, produzido pelo Instituto de Segurança Pública (ISP). Os números mostram que, longe da Região Metropolitana, milhares de mulheres continuam expostas a diferentes formas de agressão — e muitas delas em situação de risco contínuo.

Somente no ano passado, mais de 140 mil mulheres foram vítimas de algum tipo de violência no estado. Desse total, 10.287 casos se concentraram nas regiões Norte e Noroeste Fluminense, que, juntas, correspondem a quase 8% de todas as ocorrências registradas no Rio.

Campos dos Goytacazes: quando o volume denuncia a urgência

Com população expressiva e grande extensão territorial, Campos dos Goytacazes aparece como o município com alguns dos números absolutos mais altos do interior. Em 2023, foram contabilizadas:

1.385 casos de violência psicológica

940 de violência física

765 de violência moral

216 de violência patrimonial

174 de violência sexual

Especialistas apontam que a predominância da violência psicológica, tanto em Campos quanto no restante do estado, indica maior conscientização das vítimas e maior preparo das redes de apoio para identificar sinais que antes passavam despercebidos.

Índices regionais revelam vulnerabilidade persistente

No Norte Fluminense, a violência patrimonial atingiu 399 mulheres, colocando a região entre as que mais registram esse tipo de crime no estado. As taxas por 100 mil mulheres também chamam atenção, com destaque para:

41,8 casos de dano

1,2 casos de supressão de documentos

39,9 casos de violação de domicílio

A violência sexual segue como uma das mais graves. A região registrou 12,5 estupros e 44,5 estupros de vulnerável por 100 mil mulheres em 2023 — indicadores que expõem o risco enfrentado principalmente por crianças e adolescentes.

Quando o assunto é feminicídio, o quadro se agrava. O Norte Fluminense apresentou taxa de 1,9 feminicídios por 100 mil mulheres e 4,6 tentativas, enquanto o Noroeste teve uma das maiores taxas de tentativa de feminicídio do estado: 6,6 por 100 mil.

Campos também é destaque na busca por ajuda

Os dados do Disque Denúncia mostram outra face desse cenário: entre 2019 e 2023, Campos foi o único município fora da capital e da Região Metropolitana a aparecer entre os que mais acionam o serviço. Para autoridades, esse comportamento reflete tanto a alta demanda quanto a ampliação da conscientização das vítimas.

O município concentra importantes estruturas de acolhimento: a Subsecretaria Municipal de Políticas para Mulheres e o Centro Especializado de Atendimento à Mulher (CEAM) funcionam no Centro da cidade e acolhem vítimas com atendimento psicológico, social e orientações jurídicas.

Urgência que se repete ano após ano

O Dossiê Mulher 2024 reforça o que organizações e redes de proteção já denunciam há tempos: a violência contra a mulher permanece enraizada no interior do estado e exige ações contínuas, permanentes e estruturadas.

Investimentos em prevenção, capacitação profissional, fortalecimento das investigações e ampliação dos equipamentos públicos são caminhos fundamentais para reduzir a vulnerabilidade feminina nas regiões Norte e Noroeste — e impedir que números tão altos continuem fazendo parte da realidade de milhares de mulheres.

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