Muito antes da caravela de Cabral chegar às nossas praias, o Brasil já era habitado — e quem revelou essa história ao mundo foi uma mulher destemida, apaixonada por ciência e pelo sertão: a arqueóloga Niède Guidon. Conheça a trajetória inspiradora de quem escavou o passado para escrever um novo futuro.
Na imensidão do sertão do Piauí, entre formações rochosas e paisagens áridas, uma mulher mudou para sempre o que sabíamos sobre a origem do povo brasileiro. O nome dela é Niède Guidon, uma arqueóloga que passou boa parte da vida enfrentando o calor, o ceticismo da comunidade científica e a falta de apoio para revelar uma verdade surpreendente: há vestígios humanos no Brasil com mais de 50 mil anos.
E isso muda tudo.
Nascida em Jaú (SP), filha de imigrantes franceses, Niède trocou o conforto da cidade pela incerteza das expedições em um Brasil ainda negligenciado pela ciência. Quando chegou à Serra da Capivara, no interior do Piauí, nos anos 1970, deparou-se com pinturas rupestres, esqueletos e ferramentas de pedra que não deixavam dúvidas: o povoamento das Américas começou bem antes do que diziam os livros.
Mas ela não encontrou apenas pedras — encontrou resistência.
Por anos, seus estudos foram desacreditados. Questionavam seus métodos, suas datas e até seu gênero. Ainda assim, Niède persistiu. Com apoio de universidades francesas e, mais tarde, de instituições brasileiras, ela fundou o Parque Nacional da Serra da Capivara, que hoje é Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO. É lá que repousam mais de 1.200 sítios arqueológicos, com registros humanos que desafiam a lógica do “descobrimento” de 1500.
E ela não parou por aí.
Além de cientista, tornou-se gestora cultural, ativista pela preservação ambiental e educadora. Criou escolas, museus e centros de pesquisa no coração do Piauí. Recebeu prêmios como o Itaú Cultural 30 anos, Ordem de Rio Branco e teve seu nome eternizado como uma das maiores arqueólogas do mundo.
Hoje, aos 90 anos, Niède vive longe dos holofotes, mas seu legado está mais presente do que nunca — especialmente em um país que ainda precisa valorizar mais sua memória, sua ciência e suas mulheres pioneiras.
Num domingo como este, sua história é um convite para olharmos para trás com gratidão e para frente com esperança.
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