Na manhã desta quarta-feira (30), um raro e emocionante resgate ambiental aconteceu na Praia de Monte Alto, em Arraial do Cabo (RJ). Um filhote de baleia-jubarte (Megaptera novaeangliae) foi encontrado encalhado e mobilizou uma grande força-tarefa composta por instituições especializadas, órgãos públicos e voluntários da comunidade local.
O acionamento foi feito pela FUNTEC Ambiental, que prontamente alertou o Instituto BW para a Conservação e Medicina da Fauna Marinha (IBW) e o Grupo de Estudos de Mamíferos Marinhos da Região dos Lagos (GEMM-Lagos). Equipes de resgate se deslocaram até o local, acompanhadas por membros da Guarda Ambiental, Defesa Civil, Guarda-Vidas, Secretaria Municipal de Meio Ambiente, ICMBio e técnicos da Prefeitura de Arraial do Cabo.
Apesar das condições marítimas adversas causadas pela ressaca que atinge o litoral fluminense, a baleia estava viva e recebeu cuidados imediatos, seguindo rigorosos protocolos de desencalhe e bem-estar animal. Após um período de monitoramento, o filhote conseguiu retornar ao mar por conta própria. Equipes permanecem em prontidão na região para realizar novos acompanhamentos, caso o animal volte a aparecer.
“As equipes permanecem de prontidão e em contato direto, para qualquer necessidade de atendimento ao filhote”, destacou a Dra. Paula Baldassin, coordenadora de Medicina Veterinária do Instituto BW.
Segundo o biólogo e coordenador do GEMM-Lagos, Dr. Salvatore Siciliano, o encalhe está diretamente ligado ao processo migratório natural das baleias-jubarte, que deixam as águas geladas da Antártida rumo à costa brasileira para procriar e proteger os filhotes de predadores como as orcas. “Essas águas tropicais oferecem um ambiente seguro e favorável para o crescimento dos filhotes. No próximo ano, esses jovens estarão com cerca de nove metros e prontos para seguir sozinhos”, explicou.
Um símbolo de recuperação e conservação
A população de baleias-jubarte no Brasil sofreu uma redução dramática na década de 1970, com menos de 1.500 indivíduos avistados em toda a costa. Graças aos esforços de conservação e à proibição da caça, a espécie se recuperou ao longo das últimas décadas, chegando atualmente a mais de 25 mil indivíduos. No entanto, o risco de encalhes continua presente, seja por causas naturais, como o cansaço durante a migração, ou por interferências humanas, como poluição química e sonora.
As atividades de resgate e monitoramento fazem parte do Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Campos e do Espírito Santo (PMP-BC/ES), conduzido pelo IBAMA como exigência do licenciamento ambiental federal. O projeto é executado na região pelo Instituto BW e o GEMM-Lagos.
Importância do acionamento responsável
As instituições alertam que, ao encontrar um animal marinho encalhado – como baleias, pinguins, tartarugas ou aves debilitadas – não se deve devolvê-lo ao mar. A recomendação é acionar imediatamente a equipe técnica pelo número 0800 991 4800, para garantir atendimento seguro e adequado.
O caso reforça a importância da colaboração entre órgãos públicos, ONGs e a sociedade na proteção da fauna marinha e na manutenção dos ecossistemas costeiros. O resgate bem-sucedido do filhote em Arraial do Cabo é um lembrete da urgente necessidade de preservar os oceanos — e da força que existe quando ciência e comunidade atuam juntas.
Foto: Matheus Pires

